- Nº 2089 (2013/12/12)
Milhões despedem-se de Nelson Mandela

Celebração da vida <br> luta e legado

Internacional

O mundo despede-se de Nelson Mandela, o Tata (pai) Madiba (nome do clã), obreiro mais destacado da luta de um povo e da construção de uma nação livre e democrática, falecido a 5 de Dezembro, aos 95 anos.

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No Estádio Cidade do Futebol, em Joanesburgo, dezenas de milhares de sul-africanos participaram, anteontem, no arranque das cerimónias fúnebres daquele que consideram o pai da «nação arco-íris». Presentes estiveram, também, segundo o governo da África do Sul, cerca de uma centena de chefes de Estado e de governo, tornando este o maior tributo de Estado da história.

Milhares e milhares de pessoas reuniram-se, ao mesmo tempo, em três outros estádios, em torno dos mais de 100 ecrãs gigantes instalados pelas autoridades em locais públicos em todo o país, nos bairros, e em particular junto à casa onde Mandela faleceu, em Joanesburgo, ou na habitação que foi a sua no Soweto.

O imenso adeus reveste-se de carácter festivo. Assim tem sido desde que o presidente sul-africano, Jacob Zuma, anunciou ao mundo o desaparecimento do primeiro presidente negro da República da África do Sul, faz hoje uma semana. Para o povo sul-africano a ocasião é de celebração da vida, da luta e do legado de Nelson Mandela. Fazem-no com cânticos e danças jovens e idosos de diversos estratos, gente que percorre quilómetros para render a derradeira homenagem ao homem e ao seu percurso sofrido, mas sustentado na confiança e tenacidade revolucionária. Caminho por fim vitorioso que uniu os sul-africanos de diferentes origens e credos, e para além destes; que derrotou com a força da razão o apartheid e com a tolerância o sedimento do ódio que ameaçava o país novo que nascia, abrindo, dessa forma, possibilidade à construção de uma nação democrática e soberana, próspera e cujo propósito queria que fosse combater a miséria, as injustiças e desigualdades sociais.

Depois do último adeus em Joanesburgo, Mandela vai estar em câmara ardente durante três dias na capital, Pretória. Domingo, em Qunu, na província do Cabo Oriental, o corpo é depositado numa sepultura modesta. Ali ficarão os restos mortais do sul-africano com ascendência de líderes tribais Xhosa, que combateu sob todas as formas que considerou necessárias, que tudo fez para viver como pensava e recusou salamaleques laudatórios, destacando ter sido um entre gigantes como Oliver Tambo, Walter Sisulu, Albert Luthuli, Joe Slovo ou Chris Hani, elevando-se, assim, ao nível dos grandes líderes populares da humanidade.


PCP destaca exemplo


Reagindo à morte de Nelson Mandela, o Secretário-geral do PCP destacou o incansável lutador pela liberdade e pela democracia que permitiu ao povo sul-africano construir o seu devir colectivo. Nos Passos Perdidos do Parlamento, na sexta-feira, 6, antes da Assembleia da Republica aprovar um voto de pesar (ver página 18), Jerónimo de Sousa lembrou igualmente o homem que assumiu o amor ao seu povo e manifestou-se convicto de que esse mesmo povo seguirá o seu exemplo e a sua luta.

No mesmo dia, o Secretariado do Comité Central do Partido emitiu uma nota na qual «expressa o profundo pesar pelo falecimento de Nelson Mandela, transmite ao povo sul-africano e às forças progressistas e revolucionárias da África do Sul as suas mais sentidas condolências» e «reafirma a sua solidariedade de sempre ao Congresso Nacional Africano (ANC), ao Partido Comunista da África do Sul (SACP) e ao Congresso dos Sindicatos da África do Sul (COSATU) – forças da Aliança Tripartida –, com a confiança de que, através da sua unidade e determinação, construirão os caminhos para a concretização do programa de profundas transformações que, dando solução aos complexos problemas com que se confronta a África do Sul, responda aos anseios do seu povo».

«Nelson Mandela desde muito cedo se identificou com as aspirações de liberdade e justiça do seu povo, dedicando a sua vida à luta contra o regime explorador e opressor do apartheid na África do Sul. Participou desde 1942 no Congresso Nacional Africano, e foi fundador, em 1944, com Walter Sisulu e Oliver Tambo, da sua Liga Juvenil. Na sequência do massacre de Sharpeville, perpetrado pela polícia sul-africana, e da ilegalização do ANC, em 1960, Nelson Mandela conduziu a luta armada do ANC contra o apartheid», sublinha o PCP. «Em 1962, Nelson Mandela foi preso, vindo a ser condenado a prisão perpétua. Em 1985 foi-lhe negada a liberdade condicional por se recusar a renegar a luta armada do seu povo contra o apartheid. Após 28 anos na prisão, em 1990, culminando a heróica luta do povo sul-africano e uma campanha de solidariedade e de exigência da sua libertação desenvolvida ao nível mundial pelas forças progressistas, Nelson Mandela viria a ser libertado, tomando o seu lugar na direcção do processo que conduziria ao fim do hediondo regime de apartheid. Em 1991, seria eleito Presidente do ANC, substituindo Oliver Tambo, e em Abril de 1994 foi eleito Presidente da República da África do Sul, tendo exercido esta função até 1999», recorda ainda o texto.

«Nelson Mandela permaneceu até 2008 integrado na lista das personalidades consideradas terroristas pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos da América», acrescenta-se, antes de se realçar que «o falecimento de Nelson Mandela é uma enorme tristeza para todos aqueles que no Mundo consideram a sua vida um elevado exemplo de coragem, de dignidade e de total entrega à causa da liberdade, da justiça e do progresso social».

No documento, o Secretariado do CC do PCP salienta, igualmente, que «a Revolução portuguesa – a Revolução de Abril –, nos seus dois anos de existência, pondo fim ao regime fascista e colonialista português e solidária com a luta de libertação nacional dos povos africanos, contribuiu para o isolamento do apartheid e do colonialismo na África Austral e apoiou, com os Países da Linha da Frente, a luta do povo sul-africano pela liberdade».


Momentos marcantes